
Não sei se fomos a BH só por essa conta, mas fomos com a Ilma e o Aimar, os avós paternos da nossa neta Luísa à escolinha Anjo Azul, no Tirol, em Belo Horizonte, onde a Luísa participaria da encenação de uma peça baseada na canção A linda Rosa Juvenil, sendo ela a protagonista o que por si só já nos enchia de orgulho.
De câmera em punho eu estava preparado para gravar a encenação, extasiado ante a beleza do cenário, porque as professoras capricharam.
E elas, as professoras, começaram a canção infantil que reproduzo aqui, pois pode alguém não se lembrar dela toda:
“A linda rosa juvenil, juvenil, juvenil,
A linda rosa juvenil, juvenil.
Vivia alegre em seu lar, em seu lar, em seu lar
E um dia veio a bruxa má, muito má, muito má
E adormeceu a rosa assim, bem assim, bem assim
E o tempo ou a correr, a correr, a correr
E o mato cresceu ao redor, ao redor, ao redor
E um dia veio um belo rei, belo rei, belo rei
Que despertou a rosa assim, bem assim, bem assim”
E todas as linhas se repetem, gostoso, como são gostosas as canções infantis.
Ao começar a canção entra a nossa neta, lindamente vestida de rosa, dançando divinamente.
E eu filmando.
Vem a Bruxa e adormece a Rosa. O Mato, formado pelos coleguinhas, cercam a Rosa, que jaz deitada. Um garotinho, vestido de relógio, corre em volta da rodinha de mato e Rosa dormindo – era o Tempo.
E eu filmando.
Chega a vez do Príncipe – ainda bem que não veio a cavalo, mas a pé. E o coro cantando. “Um dia veio um belo rei, belo rei, belo rei.”
Não sei se por influência do Tempo que correu célere, o belo Rei sai das cortinas, correndo como louco, pula o Mato e cai com os quatro pés em cima da mão da Linda Rosa Juvenil, que desperta num grito e abre a boca a chorar.
As professoras continuam cantando: “ E despertou a rosa assim, bem assim, bem assim”.
A Luísa aos berros vem para o meu lado. Os avós, Fátima, Ilma, Aimar, correm para acudi-la.
E eu filmando – e chorando também.
Assopram a mãozinha, abraçam a menina.
O Príncipe, consternado, cabeça baixa, coitadinho, custou a entender o que acontecera. Fim da encenação.
Nada de mais trágico, ficou tudo bem, a mãozinha parou de doer de tantos beijos de avôs e avós, que beijo de avós curam qualquer dor e continuou a festinha. Alguém acalentava o principezinho que ficou no maior baixo astral.
Ô, dó, meu Deus!
Eu ainda tenho guardado o vídeo da história trágica e quando o revejo, dou risadas – e choro.
Infelizmente, essa história da Linda Rosa Juvenil acontece com muitos casamentos.
O noivo às vezes não pisa só na mão que pediu um dia. Pisa no coração, na alma, no orgulho, na vida da noiva. Noivas também, às vezes fazem isso.
E nem ficam cabisbaixos como o belo rei da história da nossa neta Luísa.
E beijos de avós não curam a alma ferida pela crueldade que acontece entre alguns casais.
Ô, dó, meu Deus!
Professor Ernane Reis é membro da Academia Divinopolitana de Letras