sábado, junho 14, 2025
Colunista

História do professor (8) 343c21

Que a Míriam do Madson é uma mulher muito bonita todo mundo que a vê, sabe. Que a Míriam do Madson é uma mulher extremamente simpática todo mundo que convive com ela sabe. A Míriam do Madson foi minha aluna e a crônica que vocês vão ler fala de uma história contata a mim por ela. Normalmente nós, professores, não nos lembramos muito das histórias que os ex-alunos nos contam – e que não se esqueceram. E normalmente nos contam histórias boas, de boas lembranças. Antes isso. Lembranças tristes não. A Míriam contou-me que algumas colegas ainda brincam com ela, chamando-a Marabá. Ela não liga, aliás, tem até hoje, certo afeto pela brincadeira.

O nome surgiu quando eu, professor dela, li – e devo ter estudado com a turma – o poema Marabá, de Gonçalves Dias. Eis alguns trechos do poema:

MARABÁ (Gonçalves Dias)

Eu vivo sozinha; ninguém me procura!

Acaso feitura Não sou de Tupá?

Se algum dentre os homens de mim não se esconde,

— “Tu és”, me responde, “Tu és Marabá!”

Meus olhos são garços, são cor das safiras,

Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar;

Imitam as nuvens de um céu anilado,

As cores imitam das vagas do mar!

Se algum dos guerreiros não foge a meus os:

– “Teus olhos são garços”,

Responde anojado; “mas és Marabá”:

“Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes, “Uns olhos fulgentes,

“Bem pretos, retintos, não cor d’anajá!”

É alvo meu rosto da alvura dos lírios,

Da cor das areias batidas do mar;

As aves mais brancas, as conchas mais puras

Não têm mais alvura, não têm mais brilhar.

…………………………………………….

Meus loiros cabelos em ondas se anelam,

O oiro mais puro não tem seu fulgor;

As brisas nos bosques de os ver se enamoram,

De os ver tão formosos como um beija-flor!

Mas eles respondem:

“Teus longos cabelos,

“São loiros, são belos,

“Mas são anelados; tu és Marabá:

“Quero antes cabelos, bem lisos, corridos,

“Cabelos compridos,

“Não cor d’oiro fino, nem cor d’anajá.”

………………………………………

Vale a pena ler o poema todo.

Procure-o.

Eu devo tê-lo lido – e traduzido, pois tem expressões desconhecidas, principalmente das crianças do Ensino Fundamental daquele tempo. Eu com certeza o li, olhando para a Míriam, lourinha, clarinha, menina linda, diferente da maioria da sua sala, lindas também, mas nenhuma clarinha como ela. Míriam já era, naquele tempo, MARABÁ. Tento imaginar como ficava vermelho o rosto alvo da Marabá. Acredito que ela está vermelhinha, neste momento, lendo essa crônica. Linda Marabá.