
Que a Míriam do Madson é uma mulher muito bonita todo mundo que a vê, sabe. Que a Míriam do Madson é uma mulher extremamente simpática todo mundo que convive com ela sabe. A Míriam do Madson foi minha aluna e a crônica que vocês vão ler fala de uma história contata a mim por ela. Normalmente nós, professores, não nos lembramos muito das histórias que os ex-alunos nos contam – e que não se esqueceram. E normalmente nos contam histórias boas, de boas lembranças. Antes isso. Lembranças tristes não. A Míriam contou-me que algumas colegas ainda brincam com ela, chamando-a Marabá. Ela não liga, aliás, tem até hoje, certo afeto pela brincadeira.
O nome surgiu quando eu, professor dela, li – e devo ter estudado com a turma – o poema Marabá, de Gonçalves Dias. Eis alguns trechos do poema:
MARABÁ (Gonçalves Dias)
Eu vivo sozinha; ninguém me procura!
Acaso feitura Não sou de Tupá?
Se algum dentre os homens de mim não se esconde,
— “Tu és”, me responde, “Tu és Marabá!”
Meus olhos são garços, são cor das safiras,
Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar;
Imitam as nuvens de um céu anilado,
As cores imitam das vagas do mar!
Se algum dos guerreiros não foge a meus os:
– “Teus olhos são garços”,
Responde anojado; “mas és Marabá”:
“Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes, “Uns olhos fulgentes,
“Bem pretos, retintos, não cor d’anajá!”
É alvo meu rosto da alvura dos lírios,
Da cor das areias batidas do mar;
As aves mais brancas, as conchas mais puras
Não têm mais alvura, não têm mais brilhar.
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Meus loiros cabelos em ondas se anelam,
O oiro mais puro não tem seu fulgor;
As brisas nos bosques de os ver se enamoram,
De os ver tão formosos como um beija-flor!
Mas eles respondem:
“Teus longos cabelos,
“São loiros, são belos,
“Mas são anelados; tu és Marabá:
“Quero antes cabelos, bem lisos, corridos,
“Cabelos compridos,
“Não cor d’oiro fino, nem cor d’anajá.”
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Vale a pena ler o poema todo.
Procure-o.
Eu devo tê-lo lido – e traduzido, pois tem expressões desconhecidas, principalmente das crianças do Ensino Fundamental daquele tempo. Eu com certeza o li, olhando para a Míriam, lourinha, clarinha, menina linda, diferente da maioria da sua sala, lindas também, mas nenhuma clarinha como ela. Míriam já era, naquele tempo, MARABÁ. Tento imaginar como ficava vermelho o rosto alvo da Marabá. Acredito que ela está vermelhinha, neste momento, lendo essa crônica. Linda Marabá.