domingo, junho 15, 2025
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Pérolas na sala de aula 6hl5i

O ofício da licenciatura, seja ela em qualquer área, exige muita atenção e, na mesma quantidade, paciência. Atenção aos movimentos dos alunos, observando as suas peculiaridades, habilidades natas, além das demandas que cada indivíduo traz internalizada. Paciência, pois, a observância se dá em meio a milhões de cobranças burocráticas que o nosso combalido sistema educacional exige de cada profissional.

O professor, na sua matéria, observa atentamente o desenvolvimento do seu aluno e se orgulha quando aparece aquele que tem facilidade em cálculos, outro que domina os fatos históricos mais importantes, ou aquele que mesmo com muita dificuldade na leitura e na escrita, possui habilidades em qualquer modalidade esportiva.

Como professor em língua portuguesa, observo, criteriosamente, a evolução na leitura e na escrita de cada aluno meu. Desde o formato da letra, até a criatividade na elaboração de textos. E afirmo com propriedade, quando aparece um ou outro com capacidade para criar textos literários que enchem os olhos do leitor, esse aluno(a) merece destaque. É o caso da minha aluna, Lavinya de Oliveira Silva que, pasmem, está no 7º ano do Fundamental 2. Dona de uma timidez visível, pois quase não se ouve a sua voz dentro de sala de aula. Mas, quando li alguns de seus poemas, percebi que ela tem o dom de conversar com as palavras.

O poema dessa escritora que vou transcrever aqui,  chamou-me a atenção pela maturidade em tão tenra idade:

ONDE ESTÃO VOCÊS?

 

No céu à noite,

O mar suavemente se move as estreitas

Do meu coração,

Sem opção.

As luzes das casas iluminam as ruas escuras,

Me vejo pensando

Que o abismo profundo que vivi

Não ou da escuridão buscando uma luz,

Sem medo, conduz para o lugar prometido,

Vagando por um bosque buscando o verdadeiro

Sentido da vida.

Naufragada no deserto, à deriva na noite escura,

Vejo a solução, mas não sigo-a,

A voz pergunta-me  coisas que não sou

Capaz de responder,

O objetivo é sobreviver ou morrer,

Se caso a felicidade ceder.

[…]

 

 

E assim segue esse belo poema como forma de registro dos anseios e divagações que são próprios da adolescência.

A Lavinya ou com honras e méritos para o oitavo ano, pois é dedicada e aplicada em todas as matérias, recebendo elogios de todos os professores. Mas, quis aqui deixar o registro de um de seus poemas.  Acho que na integralidade ele poderá ser lido em um livro que, tenho certeza, ela ainda publicará.

A esperança de que possam aparecer novas Adélias, Clarices, Cecílias, Drummonds, Quintanas…é sempre reacesa quando me deparo com alunos(as) com essa verve literária. Que a Lavinya possa sempre manter esse diálogo afinado com as palavras, possa ser exemplo para essa geração possuída pelos celulares, pelo “internetês” que  tira os nossos jovens do rumo do pleno saber. Pois assim, conseguiremos construir uma sociedade mais letrada, consciente e menos submissa. Oxalá os anjos digam amém!

 

 

Charles Guimarães é professor e escritor.