
Certa vez ouvi dizer que ter uma experiência com Deus era uma coisa incrível, imaginava que esta experiência seria quando ganhássemos algo ou conquistasse um objetivo supremo, então eu costumava dizer que quando me formei na faculdade era uma experiência com Deus, ou as minhas habilitações, afinal foram tantos anos de luta e choro, e confiança no Senhor, como não acreditar que seria uma experiência com Deus?
Lembro-me que em cada conquista eu glorificava a Deus, e minha alma ficava tão em êxtase que meu coração palpitava em milhões de batimentos por minuto. Para mim, não tinha coisa melhor que olhar para trás e ver minhas formações profissionais, minha casa organizada, meus bens de uso e fruto. Era como se tivesse em uma caixinha tudo que realizei. Pois bem, o erro começava ai.
Eu me sentia autêntica, inteligente, e tudo estavam sob o meu controle. Repito novamente, quase tudo estava sob meu controle. A experiência mais divina e mais dolorosa eu tive na minha gestação, aonde tudo ocorreu devidamente bem. Mas no o meu EU teve que ser moldado e para ser moldado, precisou ar por mudanças, virar ao avesso me fez entender realmente o que era ter uma experiência com Deus.
Muitos ouvem falar de depressão, algumas pessoas até arriscam dizer que é apenas um sentimento de tristeza e dor. Mas pra quem experimentou pode se considerar um guerreiro.
Do ponto de vista Patológico a depressão ela te deixa mudo, desanimado, frustrado e sem vontade da vida. Do ponto de vista fisiológico, há uma queda dos principais neurotransmissores do bem estar no cérebro. Mas do ponto de vista espiritual, a depressão é um parasita que suga sua energia de tal forma que te leva a enxergar tudo como se tivesse uma nuvem preta na frente dos olhos, que te tira o prazer das coisas simples como um cheiro de um perfume e o gosto da comida. Que te faz imaginar coisas terríveis ao seu respeito e inclusive que faz você pensar que a morte é a única solução. Pois todo o amor que você sentiu um dia está encarcerado dentro de um porão de amargura e tristeza.
O peso nos ombros era notável, o semblante caído, triste, chega a dar uma saudade de sorrir e de sentir alegria, chega a repuxar para baixo e as palavras somem, os casos, a percepção, o nó na garganta aperta e a comida que antes descia, agora entala na garganta, fazendo com que a cada tentativa, houvesse um repúdio do estômago expulsando para fora. O brilho do olhar some, o acalentar do sono desaparece, tudo parece complicado de resolver, impossível. As cores se tornam cinza, o dia se torna irritável, a luz do sol não esquenta e a noite não alivia a alma.
O coração chegava a acelerar, as mãos se tornavam-se trêmulas e muitas vezes tudo parecia sem sentido. Aquele versículo muito conhecido que diz “Ainda que eu tenha o dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo o conhecimento, e tenha uma fé capaz de mover montanhas, mas não tiver amor, nada serei. Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, mas não tiver amor, nada disso me valerá.” 1 Coríntios 13:2-3. Nunca fez tanto sentido.
A depressão te rouba a capacidade de sentir o amor. Você sabe que existe o amor, você consegue identificar nos gestos, mas não conseguir sentir, e exatamente isso é o mais doloroso. Imaginemos então supostamente que você tem algo muito saboroso em mãos que desejava a meses, e que ao comer o primeiro pedaço não conseguisse sentir o sabor, nem o cheiro e o mais importante a sensação? Pois bem…
O amor… Ele nos faz sentir presente, faz sentir a vida, faz sentir o calor do sol, o perfume das flores e sorrir, faz a gente querer cantar, querer viver, se arrumar, sair pra lugares simples, porém mágico. Sem amor… Nada, exatamente nada parece ser real.
E como explicar para as pessoas que todo amor que antes eu sentia que existia, mas não conseguia sentir?
A depressão cujo nome é dado para esse sentimento para mim é uma das piores sensações deste planeta. O que seria pior de algo que te rouba a alegria e a vontade de viver?
Era 11 de Dezembro de 2023, uma tarde quente, e muito serviço e coisa para resolver, lembro-me que estava em meio a uma reunião em home oficce quando senti o corpo todo suar, minha nuca doía e meu coração acelerava, foi quando imaginei; a pressão arterial pode estar alta. Neste mesmo momento eu peguei o aparelho de pressão que tinha, era analógico e podia escutar as batidas do meu coração, foi quando inflei a braçadeira e olhei no manômetro, Meu Deus! Será que minha pressão estava alta ou era minha imaginação? O ponteiro batia nos 150 e terminava nos 100, não era possível, afinal com 31 semanas minha pressão ia subir assim? Talvez fosse a emoção do momento. Após esse dia, o medo tomou conta de mim.
Eu avisava os médicos, procura a Unidade de Saúde mais perto da minha casa, mas mesmo assim, alegavam crise de ansiedade, desde então comecei um ciclo vicioso em medir pressão arterial a todo o momento. Para mim era o problema principal, mas mal eu sabia que a raiz do problema era bem maior.
Assim, os dias foram ando, Dezembro que era o mês que eu mais amava se tornou sem graça, mas eu não percebia os fatos, já não tinha gosto de entrar no quarto da minha filha e olhar as roupas dela. Aliás, quando entrava dentro do quarto sentia meu coração disparar e suava frio, e era o certo, minha pressão estava novamente alterada.
Foi então que comecei a evitar pessoas e lugares, conversas no whatsaap, festas, bares, igrejas e reuniões em família. Tudo que eu mais queria era ficar no quarto monitorando minha pressão e tendo certeza que estava normal. Na verdade, o que eu não percebia era que a pressão alterada era resultado de uma crise de pânico grave que estava tomando conta de mim, e desencadeando um estado depressivo maior.
Lembro-me que fiquei semanas assim, já não conseguia chegar perto do computador para trabalhar, os dias pareciam sem graça, sem razão e então eu sabia apenas uma coisa e acostumava falar sobre isso. Meu corpo parecia estar em estado de alerta o tempo inteiro como se algo estivesse me ameaçando, eu liberava hormônios do stress e ficava muito preocupada pois estava gerando uma vida e ela não poderia sentir tantas coisas assim.
Eu costumo ainda afirmar de uma forma mais abrangente, entre a divisão do nosso Sistema Nervoso, existe uma forma natural do organismo de “Defesa” chamado Sistema Nervoso Simpático, quando ele é ativado é como se tivesse um leão a nossa frente, com isso, vários hormônios são liberados em nosso corpo como o cortisol por exemplo, desencadeando sintomas severos de pânico como suadeira, tremedeira, calafrios, abafamento entre muitos outros. O pensamento de um ansioso é extremamente acelerado, e a acredite, coisas simples parecem ameaçador.
A gestação em si já é dotada de medos e inseguranças, mas quando se trata de uma mente ansiosa, absolutamente tudo e qualquer minucioso problema se tornam uma avalanche e tudo parece desabar. Pois bem, todas as ultrassonografias estavam perfeitamente bem. Aliás antes de fazer o ultrassom era como se eu fosse entrar em uma cova de leões, ava muito mal de ansiedade extrema. Isso também para consultas com a obstetra e qualquer outro médico e o que envolvia área da saúde.
Eu levei adiante este estado ansioso por semanas até que, em uma das minhas consultas o coração da minha filha estava acima de 160 batimentos cardíacos por minuto e mesmo todos os médicos me dizendo que era normal eu absolutamente não acreditava em nada que eles falaram. A culpa tomou conta de mim e eu afirmava ser uma ameaça para minha filha. Assim procurei o hospital e fiz todos os exames para entender se realmente era normal. E, era.
Nesta altura deste campeonato, eu estava com trinta e sete semanas e dois dias, e para mim estava quase tudo resolvido, tirando as noites em claros medindo pressão arterial de cinco em cinco minutos. Foi quando eu pensei que estava controlando minha crise de ansiedade que em umas das consultas a médica foi aferir a pressão para controle e eu sabia que naquele momento, não poderia ser diferente, minha pressão estava mais alta que em todos os dias. Na verdade meu ataque de pânico estava no ápice, e fui encaminhada para maternidade para uma intervenção da gestação. Realmente eu não queria e parecia que eles iam tirar a minha filha antes da hora, mas eu não tive escolha. Afinal, não era vantajoso seguir gestação com uma pressão arterial tão alta e mesmo com rastreamento de pré eclampsia e eclampsia, tudo estava normal nos exames. Menos, comigo.
Era 07 de Fevereiro de 2024, tudo que o que eu mais almejava estava diante dos meus olhos o nascimento da minha filha. A ansiedade me levou ao nível mais extremo de preocupação. De início eu pensava que eu conseguia controlar, eu pensava que tudo estava sob o meu controle. Inclusive os meus medos. Lembro-me que meu parto foi agendado para trinta e oito semanas devido à alteração de uma pressão arterial, que não decorria de nenhum estado patológico em si. Mas sim de um estado de ansiedade extrema.
Quando a Laura nasceu escutei o seu choro e falei a seguinte frase: Eu consegui! Fomos para observação, quarto e depois casa. O amor fogueava no peito, chorei de emoção e alegria. Era um amor que me arrebatava e chegava a doer. Três dias se aram e voltamos para o hospital devido a uma intercorrência simples. A Laura estava com bilirrubina alta e precisava ser tratada com uma luz UV. Neste dia lembro que me desesperei por completo. Um diagnóstico tão simples e ao mesmo tempo tão intenso. Eu chorava e queria controlar tudo que acontecia eu queria tomar atitudes pelos médicos e por todos a minha volta.
Devido ao aumento do meu estado de pânico fiquei três noites sem dormir, não porque não queria, mas o meu psicológico não entendia e meu corpo não respondia, o que eu mais queria era desacelerar, porém eu não conseguia. O que eu mais queria era relaxar a mente e sentir que estava lá para o bem dela. Porém não conseguia, a minha mente não desligava nem um segundo sequer. E então começou os efeitos psicossomáticos no meu corpo.
O que mais me impressionou foi que o corpo, de uma maneira bem explosiva ele gritava por socorro quando chegou a um limite. Meu limite não era o hospital em si… Nem o pós cesárea que no meu caso a recuperação foi rápida. O que eu não havia percebido era que havia coisas lá atrás não resolvidas. Problemas na infância não tratados, lapsos de depressão não percebidos e o mais importante, a ansiedade extrema não tratada.
Quando não reconhecemos que precisamos de ajuda, há notoriamente um copo de água se enchendo, e claramente que estou falando da última gota emocional que faz com que o corpo se transborde e entre em colapso.
Eu sentia uma fraqueza tão grande em meu corpo que minhas pernas pareciam não sustentar meu corpo, tentava comer o que estava disponível no hospital e o que o meu marido levava para mim, mas a ânsia de vômito falava mais alto. Eu estava cansada, exausta. Afinal estava sem dormir e em um hospital. Para mim estava tudo normal, pensava que apenas uma noite de sono em casa resolveria todos os meus problemas.
No entanto, quando cheguei em casa notei que mesmo dormindo e alimentando a fraqueza não ava, eu tinha um jeito de fazer as coisas totalmente diferente de como eu fazia antes. Eu tinha desânimo de tudo e as tarefas simples parecia ser a coisa mais complicada deste mundo. Bom, isso não era o pior. Comecei a notar que o amor que eu sentia pela minha filha não fogueava no peito como antes, e eu tinha muito medo, medo não conseguir cuidar, de não conseguir ser uma boa mãe.
Eu tive que me realinhar de tal forma que muitos caminhos pareciam meio tortuosos. O meu cérebro não desligava e para mim isso era horrível pois cada o que eu dava, cada pensamento me trazia por cada detalhe do meu ado. Eu estava criando minha filha. E me tornei uma pessoa totalmente fria. Dias se aram, as crises só pioravam, tinha um sentimento imenso de culpa por tudo que eu havia vivido, relembrava o ado a cada instante e parecia que eu tina perdido tudo a minha volta, o meu casamento, o meu diploma, e o mais importante de tudo, a minha filha.
Justificava-me o tempo todo, afinal o que estava acontecendo comigo?
Em meio ao mundo inteiro e a romantização das redes sociais eu era a única mãe que não conseguia ser Mãe?
A culpa era certa, me culpava por tudo e por todos, não sentia vontade de olhar no espelho e as olheras eram muito aparentes. Todos a minha volta me via como apagada, e eu sentia literalmente o meu corpo definhar.
Foi então que eu procurei ajuda profissional. Lembro-me que os pensamentos negativos e suicidas eram freqüentes, eu queria muito sair daquela dor que me envolvia que me tirava a vontade de viver. Mas eu tinha uma força, o olhar da minha pequena me envolvia e me dava motivos de seguir em frente. Embora minha vontade de ir embora e sair correndo eram freqüente. Inclusive por inúmeras vezes eu deixei minha mãe cuidando da minha bebê e saia sem rumo. Minha mãe sempre acreditou em mim, que eu voltaria, e eu? Voltava.
Certa vez quando minha filha dormia eu pensava em formas de acabar com a dor que sentia, tudo a minha volta estava bem, menos, dentro de mim, a casa parecia escura sem luz e sem vida. Eu ligava para meus amigos com intuito de me ajudar a não desistir da vida e por inúmeras vezes eu fui ouvida e acolhida.
Eu estava uma bagunça e um caos estava instalado em minha mente. Não conseguia raciocinar o mínimo. Muitas vezes não lembrava de como trocar minha filha ou até mesmo a última hora que eu me alimentei. A sensação que tinha era que tinha outra alma vivendo no meu corpo. Ou o mais engraçado, muitas vezes cheguei a pensar que havia morrido e que minha alma estava sendo castigada por Deus aqui na terra.
Estava muito negativa, muito destrutiva, muito nervosa, agitada. Eu sentia uma dor tão forte no peito que mais parecia uma faca de dois gumes enfiando com toda força e sem dó. E o mais importante, eu estava sem sentimentos e extremamente Fria.
Ouvia muito: Mas você tem tudo e ainda continua reclamando?
Isso é manha sua…
Para com isso, olha as pessoas a sua volta, tem pessoas piores, você não enxerga isso?
Você tem uma filha saudável e quer acabar com sua própria vida? Isso é falta de Deus e falta de Fé.
Realmente, e com toda certeza, uma vez um profissional me falou que três coisas teriam que andar em conjunto. O Espiritual, o Terapêutico e o Medicamentoso, bom, ele tinha muita razão.
A primeira coisa que fiz foi procurar ajuda Psicológica, as primeiras consultas foram extremamente difíceis, pois eu tinha crise de pânico ao conversar e não conseguia expressar o que sentia.
Aos poucos as consultas foram se tornando leves, mas levou um bom tempo para se realinhar. Para isso, eu comecei o tratamento com um médico psiquiatra muito bom, inclusive eu agradeço muito e ele. Mas no início das medicações também foram difíceis. Eu tive muitas reações as medicações. As crises aumentaram significamente, ao ponto que meus pais e meu esposo não saberem mais o que fazer, as crises aumentaram a cada dia e eles era minha única rede de apoio.
Muitas vezes ver o olhar do meu Pai de preocupação me doía. Eu chegava imaginar que eu chegaria ao ponto de ter que ser internada para recuperar e isso para mim foi o mais difícil de imaginar, ficar longe da minha casa, marido e filha, realmente ia me melhorar?
Contando os sintomas assim, as pessoas nem imaginam o que é ar por um momento depressivo, afinal, depressão não é apenas um estado triste, um sentimento ou um mero jeito de chamar atenção. Ela é muito mais que isso, ela realmente é cruel, avassaladora, e precisa de tratamento, ambos, sem muitas explicações, é preciso acreditar que é real.
Exatamente aos quatro meses pós parto, as medicações começaram a fazer efeito e em conjunto com a terapia e com muita Fé em Deus eu consegui ver melhoras significativas em meu quadro. Lembro-me, três de Julho de 2024, foi o dia que eu senti bem e livre dos meus sintomas depressivos.
A cura, muitas vezes essa palavra parece sublime aos olhos humanos, um milagre, mas o que não contamos é que a cura realmente começa dentro de nós. E aos pequenos gestos do dia a dia como adormecer em uma tarde chuvosa, em conseguir parar os pensamentos intrusivos e destrutivos e sentir bem ao ar um perfume, em poder sentir o gosto dos alimentos na boca e o mais importante, conseguir sentir AMOR.
Nada é mais impressionante mediante aos fatos do que sentir verdadeiramente o amor, e nada nesta vida se compra, nem se vende, o fato de sentir cada momento do dia e agradecer de forma intensa cada momento vivido me fizeram entender a lógica de ar por um vale tão escuro. Afinal, olhando para trás foram quatro meses na escuridão. Quatro meses lutando contra meus próprios pensamentos, e atitudes que não eu não queria ter.
De todas as experiências vividas, posso dizer com clareza e leveza, que, não importa a tempestade e a escuridão, sempre haverá um dia para clarear e tudo, tudo vai de alguma forma ar. Embora eu já duvidasse por inúmeras vezes da minha recuperação. Hoje, eu olho no espelho e digo, eu venci. E para aquelas pessoas que estão ando pelos vales escuros. Eu só tenho uma palavra: Não desista. Eu aprendi que não há como controlar a vida e nem tudo que nela acontece, Deus em sua infinita bondade nos traz várias formas de mostrar que Ele que controla o nosso amanhecer e nosso entardecer. Nosso respirar e nossa vida… Não há como sermos Deus e querermos controlar nossas vidas com nossas próprias mãos.
Eu sou a prova viva que de que podemos lutar e vencer a depressão. Não sozinhos, mas com as armas da Fé, e com todos os arsenais de tratamento medicamentoso e terapêutico.
Você irá vencer!
Por Adriana Toste